Semana passada, agredi minha vizinha.😬
Estava numa piscina semiolímpica, fazendo um treino, quando - estabanadamente - acertei a senhora do 408. Ela nadava discretamente perto da borda, e eu achei que seria uma excelente ideia me colocar na raia imaginária grudada ao lado dela. Do mais absoluto nada, saí da minha trajetória e dei-lhe uma braçada na cabeça. Ela parou o nado, me lançou um olhar indignado, e eu quase pude ouvir seu pensamento:
“Num piscinão deste tamanho, tô aqui no canto e ainda sou atropelada?”
Pedi desculpas, claro. Mas aquele olhar não saiu da minha cabeça. Fiquei pensando em como, mesmo em espaços amplos, algumas de nós continuam se apertando nas bordas.
Me lembrei então de um estudo da geógrafa francesa Edith Maruéjouls. Ela analisa como, já na infância, meninos e meninas aprendem regras não ditas sobre espaço. Segundo ela, no pátio da escola, o futebol - que pode ocupar até 80% da área - coloca os meninos no centro e empurra as meninas para as margens. Elas evitam cruzar o campo com medo de levar uma bolada. Os meninos, por outro lado, aprendem que o espaço público lhes pertence e que eles têm o direito de se apropriar dele. Para as meninas, ensina o oposto: que é normal serem empurradas para os cantos do pátio.
Essa dinâmica aparentemente banal molda comportamentos. Ensina que há corpos que podem avançar, se expandir, ocupar. E outros que devem evitar, reduzir, se conter.
Naquela piscina refrigerada (sim, em Dubai o calor é tanto que a água é gelada artificialmente), tive a sensação de que estávamos, minha vizinha e eu, encenando um recreio escolar. E de que, de alguma forma, ainda carrego essas coreografias de infância para meu corpo adulto. Não passou pela minha cabeça a possibilidade de nadar no centro da piscina. Acabei empurrando nós duas pra borda e… pimba!
Pensei também nas dezenas de mulheres que entrevistei no podcast e nas outras tantas com quem converso nos bastidores. Mulheres de sucesso, de várias nacionalidades, quase todas relatam, em algum momento da vida, o medo de estarem ocupando espaço que historicamente não foram ocupados por elas. Isso aparece com muita força entre imigrantes e expatriadas. A cada conquista, um sopro de dúvida:“Será que eu devia estar aqui? Será que não estou tomando o lugar de alguém?”
A sensação de que estamos invadindo algo que não nos pertence nasce de camadas e camadas de mensagens sutis (e às vezes nem tão sutis assim) dizendo que o centro não nos pertence. Que nosso lugar é no canto, sem atrapalhar. Que ocupar espaço demais é ser inconveniente.
O espaço que ocupamos no mundo diz muito - e também é dito sobre nós. Mas é também escolha, consciência e prática. Podemos seguir nadando nas bordas ou começar, com firmeza e leveza, a nadar no centro para ensinar o corpo e a mente que a gente pode se espalhar. E que pertencer a todos os espaços não deveria doer, a póbi da vizinha que o diga.
Quem faturou igual o coleguinha?
A tenista Coco Gauff. US$ 2,9 milhões foi o prêmio recebido por Gauff pela conquista do primeiro lugar em Roland Garros. Um valor praticamente idêntico ao do campeão masculino do mesmo torneio, Carlos Alcaraz. Esse dado carrega décadas de luta por espaço e igualdade no tênis profissional. O combate teve nomes de peso na linha de frente, como Billie Jean King e Venus Williams.
Em 2005, Venus fez um discurso marcante diante do Comitê do Grand Slam. Em meio à discussão sobre a disparidade de prêmios entre homens e mulheres, ela convidou os presentes a fecharem os olhos e disse:
“Agora, com os olhos fechados, você não sabe se a pessoa ao seu lado é um homem ou uma mulher, mas todos os corações estão batendo do mesmo jeito. Você gostaria que sua filha, sua irmã, sua mãe, sua esposa - ou as mulheres que você ama - recebessem um salário menor por fazerem o mesmo trabalho?”
Quem é o novo tomate?
A Goiaba. Se no ano passado as clean girls elegeram o tomate como queridinho, este ano é a vez dos produtos à base de goiaba. Eles estão por toda parte: perfumes, protetores labiais, águas micelares e maquiagem. Antioxidante, rica em vitamina C e com uma cor vibrante, a goiaba prova que merece o título de musa do verão que começa agora no hemisfério norte.
P.S.: Para quem quiser cultivar seu próprio pezinho de goiaba em casa, tem um vídeo no YouTube absolutamente fantástico, a gente não entende lhufas do que o apresentador fala, mas, surpreendentemente, entende perfeitamente como plantar uma goiabeira …a partir de um tomate!
Badalada, o que é?
Em bom português de rua, "badalada" é o que tá bombando.
Popular, falada, movimentada, é assim que usamos a palavra no Brasil. Mas, lá fora, o termo está ganhando um novo significado, graças à campanha de lançamento do novo produto Body Badalada Lotion, da Sol de Janeiro, marca americana que, desde sempre, vende o Brasil como sensação tropical em forma de creme.
Segundo a pesquisadora de tendências Noe Schultz, no imaginário internacional, badalada virou sinônimo da energia do verão: aquela amiga que brilha sem esforço, um look que chama atenção na medida certa, o dia de sol que energiza a alma.
Na onda do #Brazilcore, que já vem subindo há algum tempo, marcas como Jacquemus, Carolina Herrera e, mais recentemente, Paco Rabanne, colocaram a estética brasileira no centro da passarela. O estilo é tudo menos minimalista: expressivo, vibrante, tropical, cheio de cor e sem medo de ser feliz.
Além de acumular polêmicas sobre apropriação cultural e reforçar estereótipos, o movimento tem se mostrado um prato cheio - e altamente lucrativo - em termos de imagem. As marcas não são bobas: já perceberam que uma bandeirinha do Brasil no feed do Instagram é suficiente para gerar uma enxurrada de cliques, comentários e repostagens, especialmente dos brasileiros, que não resistem a um aceno verde-amarelo ganhando espaço pelo mundo. Que fique bem claro, eu sou uma delas!